por Thiago N. Santos
Lançado em abril de 2019, “ReMastered: O Diabo na Encruzilhada” conta a história do homem que moldou o gênero que é pai de muitos: Robert Johnson, patrono do delta blues. O documentário conta tudo sobre o mito de Robert Johnson e como ele supostamente foi de um músico medíocre para o melhor do mundo vendendo sua alma ao diabo na famosa encruzilhada de Clarksdale, Mississipi, e depois influenciando não só gêneros musicais, mas também, em esfera individual, gigantes da música como Eric Clapton, Jack White e Keith Richards.

Focando mais em sua vida pessoal do que em sua (reduzida) obra, Brian Oakes traz à tona todas as tragédias que se passaram na vida do jovem Robert, que foi abandonado por seu pai, abusado fisicamente por seu padrasto, perdeu o amor de sua vida e seu primeiro filho de uma vez só e, até certo ponto da vida, era um fracasso, até chegar no momento chave: A troca de sua alma ao Diabo numa encruzilhada, história que agora só pode apenas ser confirmada pelo próprio Diabo. O documentário traz também uma ótima discussão sobre a demonização de Robert e do próprio Blues por sua própria comunidade, o tornando um errante, e como isso tudo fez com que ele se tornasse um dos maiores, apesar de ter causado muita dor e sofrimento a ele durante toda sua carreira.
O mito conta que, no começo dos anos 30, Robert era um amante do blues e se esforçava para tirar alguns trocados tocando seu violão nas ruas do sul dos Estados Unidos de forma medíocre, ainda sendo gentil, de acordo com Son House e Willie Brown, que não hesitaram em dizer isso para o garoto, que ficou cerca de um ano sumido e voltou tocando o instrumento de forma que ninguém nunca viu antes. E assim começou a se espalhar a história de que ele havia trocado sua alma pela habilidade singular com o violão, tendo em vista que, em tese, ninguém é capaz de ter uma evolução tão grande em tão pouco tempo.
Robert então resolveu tomar vantagem da situação e finalmente encontrar a exaltação que procurava no meio de tanta humilhação que já havia passado. Se fez o “Homem do Diabo”: Fazia citações diretas a ele em suas letras, construiu sua carreira em cima de um suposto mito. O Homem do Diabo, tocando a música do diabo para os homens de Deus.

É fato que ele tinha uma relação única com a música e com seu instrumento, e consolidou muito do que a gente musicalmente viu em astros do blues como B.B. King e Muddy Waters, mas o que nos impressiona foi como ele tomou todos os rótulos e tragédias jogadas sobre ele e as transformou na forma de arte mais pura que o ser humano já viu, passando toda a sua tristeza e sua curta vida torta através de 7 cordas e uma voz lamuriante, que murmura, própria de quem já aguentou demais.
Infelizmente, levado por suas mazelas, ego e vícios, acabou terminando de forma trágica: Envenenado num bar, com o sofrimento de quem estava pagando sua dívida com o Diabo.
Em suma: Talvez ele nunca nem tenha feito um pacto com o diabo, mas no final acabou acordando o diabo que havia dentro de si e que há dentro de todos nós. E se o diabo que reside dentro do ser humano quer dizer talento, birita e fama, por mais que traga sofrimento (que virá de qualquer jeito), talvez fazer um pacto nem seja tão ruim assim.
